Informação

PATRIMÓNIO EDIFICADO DE URRÔ

A antiga freguesia de S. Miguel de Urrô era curato da apresentação do Mosteiro de Arouca, passando depois a abadia.

A igreja tem cinco altares com seus retábulos; o retábulo-mor, de estilo barroco nacional (1725); os outros retábulos são joaninos. É curiosa a galilé da entrada principal com as suas sineiras. Foi declarada imóvel de interesse público em 1951.

Existem na freguesia de Urrô seis capelas: a de S. Lourenço, perto da igreja, a de Santo António, no lugar de Lourosa de Matos, a da Casa de Cela, a de S. Francisco em Souto Redondo, a de S. Lucas na Póvoa Reguenga e a Capela de Nossa Senhora da Lage, perto do lugar de Merujal. Nesta última capela realiza-se no dia 3 de Maio a célebre festa das cruzes, muito concorrida por gente de Arouca e concelhos visinhos.

A algumas destas capelas referia-se o relatório paroquial de 1788 nestes termos: "Há nesta freguesia 4 capelas uma com invocação de S. Lourenço vizinha da igreja é popular não tem dote ou fábrica alguma, acode-se ao seu reparo com as esmolas dos fiéis. Costuma festejar o Santo a dez de Agosto, com sermão e missa cantada, aonde acode grande concurso de gente" (...) "Há outra com a invocação de Santo António, no lugar de Lourosa, distante da igreja meia légua" (...) "Há outra ermida com a invocação da Senhora da Lage no alto da serra da Freita, lugar ermo e perto do lugar de Merujal". O documento não está completo mas torna-se evidente que o pároco se iria referir em seguida à Capela da Casa de Cela. Relativamente à igreja, o pároco descrevia-a como "um dos melhores templos deste vale porque se acha bem reedificado de paredes, bem forrado e solhado, tanto a capela-mor como o corpo da igreja, sem ao presente precisar de reparo algum. Tem cinco altares com o altar maior de todos de talha dourada.

A sacristia se acha com os telhados arruinados com precisão de ser armada e forrada. O batistério se acha adornado, com sua grade moderna toda oleada e pintada". Em Urrô fica o chamado "Coto do Muro", alto de uma estação arqueológica importante e praticamente desconhecida. Essa estação sobe do Matinho, Regadas e Pedra Má, da freguesia de Rossas, da Pedra Má e Caracuste, de Várzea, e espraia-se, do lado oposto, por terras de S. Miguel de Urrô. O coto no alto do serro tem três plataformas. Na base encontram-se o significativo lugar da Cividade e um outro denominado Campo de Abade, ambos pertencentes a Urrô. Subsiste a vaga tradição de que aqui existiria uma igreja.

Segundo A. de Almeida Fernandes, seria aí o castro Arauca referido em documentos medievais. Na verdade, há documentos que localizam esse castro - o "castro Arauca" ou "castro de Arouca" - parecendo não deixarem dúvidas sobre a sua localização: a villa Congustu (Rossas) ficava "prope castro Arauca" (junto do castro Arouca) diz um documento de 1080; a villa Nokeiroda (actual Nogueiró) ficava igualmente "prope crasto Arauca" segundo documentos de 1088 e 1098; e a villa Varzena (Várzea) era dada a mesma referência geográfica relativamente ao castro de Arouca, segundo um documento de 1101. Resulta, assim, que Rossas, Nogueiró e Várzea ficavam junto do castro Arauca. O topónimo Arauca terá passado, depois, a designar a região, fixando-se seguidamente à volta do mosteiro, em Arouca dos nossos dias.

FESTIVIDADES

FESTA DO SENHOR

data do evento: Durante o mês de Julho

local: Igreja Matriz

FESTA A S. FRANCISCO

data do evento: Durante o mês de Agosto

local: Capela de S. Francisco, Souto Redondo

FESTA A S. LOURENÇO

data do evento: 1º Domingo de Agosto

local: Capela de S. Lourenço

FESTA A STº. ANTÓNIO E À SRª. DA PIEDADE

data do evento: Fim-de-semana seguinte ao dia 13 de Junho

local: Capela de S. António, Lourosa de Matos

FESTA A S. LUCAS E À SRª. DE FÁTIMA

data do evento: Durante o mês de Agosto

local: Capela S. Lucas, Póvoa Reguenga

FESTA A SRª. DA LAGE

data do evento: 3 de Maio, 15 de Agosto e 8 de Setembro

local: Capela de Srª da Lage, Merujal

O CULTO DA SENHOR DA LAJE

O maciço da Gralheira, localizado a Sul do Douro, apresenta em diversas das suas componentes capelas de curiosas e populares devoções a Nossa Senhora.

A Serra da Freita é uma das elevações que faz parte da cadeia montanhosa. Aí, numa zona aplainada, nas proximidades do lugar do Merujal, freguesia de Urrô, realizam-se três vezes por ano, romarias – respectivamente a 3 de Maio, 15 de Agosto e 8 de Setembro – em honra de Nossa Senhora da Laje que, popularmente, admite ainda o nome de «Laijes ou Lajem». Por isso se poderá compreender a importância que este lugar tem no aro da freguesia, aliás bem patente numa quadra popular, onde é considerado o ex-libris da freguesia.

Souto Redondo não vale nada

A Póvoa não tem valia

Adeus, lugar de Mꞌrujale

Quꞌé o ramo da freguesia

 

A invocação a Nossa Senhora da Laje, tal como a colocação da capela no lugar se encontra, não é fruto do acaso, antes deriva da necessidade de se cristianizar um local, outrora palco de prováveis manifestações sacrais. Provam-no a presença de uma série de fossetes ou covinhas, erosionadas umas, avivadas ou desvirtuadas outras, num enorme rochedo situado a Norte da capela e praticamente a ele acoplado. Se dúvidas houvesse, bastaria reparar no pequeno nicho aberto na parede vertical do penedo o qual está acompanhado da data de 1717, facto que não significa forçosamente que seja o da feitura do nicho.

Foi neste pequeno santuário, bem rupestre e ao gosto popular que começou o culto à Senhora. Devoção que não terminou com a construção da capela já que mesmo sem imagem, os crentes e devotos continuam a oferecer velas e a colocar toda a sua fé nas luzes que se vão consumindo.

O culto à Senhora da Laje é mais um dos muitos relacionados com o achamento de imagens perdidas ou escondidas desde os remotos tempos em que os sarracenos invadiram Portugal. É mais um em que houve a necessidade de expurgar o mal que as covinhas gravadas por «fadas, feiticeiras ou outro tipo de entes», que não auguravam nada de bom, podiam trazer para as populações da pequena chã do Merujal e para os gados que apascentavam na serra, santificar para prevenir, sacralizar para mudar o ciclo malfazejo, recolher as graças propiciadoras de uma imagem, talvez milagrosamente «aparecida» numa fenda dos muitos rochedos que coroam o sítio.

A Senhora da Laje tem a particularidade de atrair muitos romeiros, não só do concelho de Arouca e com destaque para a freguesia a que pertence mas ainda e sobretudo para os habitantes das encostas da serra da Freita. A maioria dos romeiros provém dos concelhos de São Pedro do Sul, Vale de Cambra e Sever do Vouga. Mas além destes, há ainda peregrinos de outros mais distantes, como é o caso de Oliveira de Azeméis, Albergaria-a-Velha, São João da Madeira, Vila da Feira, Ovar e até de Murtosa.

A devoção a esta Senhora deve remontar seguramente, pelo menos, aos finais do século XVI ou inícios do século XVII, altura em que se edificaram muitas das ermidas que hoje podemos observar no cimo dos montes, muitos dos quais outrora ocupados por povoados castrejos e castelos medievais.

A capela onde se pratica esta invocação possui traços arquitectónicos que nos permitem enquadrá-la na transição do século XVII para o século XVIII. A testemunhar este facto existe ainda um testemunho epigráfico, numa pedra a servir de lintel numa janela, onde está gravada a data de 1680.